Resumo
O uso de sistemas de inteligência artificial (IA) pelo poder judiciário já é uma realidade que tem se apresentado como alternativa para a morosidade processual e a sobrecarga de processos nas instituições de justiça. Contudo, a discriminação algorítmica se apresenta como um risco evidente no uso desses sistemas. Diante disso, este trabalho busca entender as implicações da discriminação algorítmica para o efetivo acesso à justiça e como esse direito fundamental pode ser garantido em um cenário de intensificação do uso de sistemas de inteligência artificial pelo poder judiciário. Como metodologia, utiliza-se o método dedutivo e a técnica da pesquisa bibliográfica documental. Conclui-se que a discriminação algorítmica é incompatível com o acesso efetivo à justiça e que a superação desse problema exige a incorporação de uma perspectiva interseccional, capaz de reconhecer e enfrentar as desigualdades estruturais que impactam a prestação jurisdicional.
Referências
ÁVILA, Gustavo Noronha de; CORAZZA, Thaís Aline Mazetto. Os vieses algorítmicos na função decisória dos sistemas de inteligência artificial. Revista da Ajuris, Porto Alegre, v. 49, n. 152, p. 181-210, jun. 2022. Disponível em: https://revistadaajuris.ajuris.org.br/index.php/REVAJURIS/article/view/1230. Acesso em: 29 jan. 2025;
BERSANI, Humberto. Racismo estrutural e direito à desestratificação: um estudo a partir das relações de trabalho. Belo Horizonte: Casa do Direito, 2020;
BONAT, Debora; PEIXOTO, Fabiano Hartmann. Racionalidade no direito: inteligência artificial e precedentes. Volume 3. Curitiba: 2020;
CAMBI, Eduardo Augusto Salomão; AMARAL, Maria Eduarda Toledo Pennacchi Tibiriçá. Inteligência artificial no Poder Judiciário, discriminação algorítmica e direitos humanos-fundamentais. Suprema – Revista de Estudos Constitucionais, Distrito Federal, Brasil, v. 3, n. 2, p. 189–218, 2023. Disponível em: https://suprema.stf.jus.br/index.php/suprema/article/view/250. Acesso em: 28 nov. 2024.
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Fabris, 1988;
CIRINO, Samia Moda; FELICIANO, Júlia Maria. Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero: abertura para uma mudança epistemológica no direito e na prática jurídica no Brasil. Revista Direito Público, Brasília, v. 20, n. 106, p. 247-271, abr./jun. 2023. Disponível em: https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/direitopublico/article/view/7137/3074. Acesso em: 24 jul. 2024;
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Estatísticas do Poder Judiciário. 2024. Disponível em: https://justica-em-numeros.cnj.jus.br/painel-estatisticas/. Acesso em: 01 fev. 2025;
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Perfil Sociodemográfico dos Magistrados Brasileiros. 2018. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/conteudo/arquivo/2018/09/49b47a6cf9185359256c22766d5076eb.pdf Acesso em: 25 jul. 2024;
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Protocolo para julgamento com Perspectiva Racial. 2024. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2024/11/protocolo-para-julgamento-com-perspectiva-racial-1.pdf. Acesso em: 10 jan. 2025;
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Protocolo para julgamento com Perspectiva de Gênero. 2021. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/10/protocolo-para-julgamento-com-perspectiva-de-genero-cnj-24-03-2022.pdf. Acesso em: 25 jul. 2024;
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução n° 332, de 21 de agosto de 2020. Dispõe sobre a ética, a transparência e a governança na produção e no uso de Inteligência Artificial no Poder Judiciário e dá outras providências. 2020. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/files/original191707202008255f4563b35f8e8.pdf. Acesso em: 3 fev. 2025;
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Barbosa de Souza e Outros vs. Brasil. Sentença de 7 de setembro de 2021 (Exceções Preliminares, Mérito, Reparações e Custas). San José, 2021. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_435_por.pdf. Acesso em: 29 set. 2024;
CRENSHAW, Kimberlé. Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black Feminist Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory and Antiracist Politics. University of Chicago Legal Forum, n. 140, p. 139-167, 1989. Disponível em: https://chicagounbound.uchicago.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1052&context=uclf. Acesso em: 06 mai. 2025;
CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 10, n. 1, jan. 2002. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104 026X2002000100011. Acesso em: 30 set. 2024;
GALANTER, Marc. Acesso à justiça em um mundo de capacidade social em expansão. Traduzido por João Eberhardt Francisco, Maria Cecília de Araújo Asperti e Susana Henriques da Costa. Porto Alegre: Revista Brasileira de Sociologia do Direito, ABraSD. v. 2. n. 1. p. 37-49. jan/jun 2015;
GARCÍA, Ana Montesinos. Inteligencia artifical em la justicia con perspectiva de género: amenazas y oportunidades. Actualidad Jurídica Iberoamericana, [s.l], n. 21, agosto 2024. Disponível em: https://revista-aji.com/wp-content/uploads/2024/07/AJI21_Art20.pdf. Acesso em: 03 fev. 2025;
IGREJA, Rebecca Lemos; RAMPIN, Talita Tatiana Dias. Acesso à justiça: um debate inacabado. Brasília: Suprema - Revista de Estudos Constitucionais, v. 1, n. 2, p. 191-220, jul./dez. 2021;
IGREJA, Rebecca Lemos; RAMPIN, Talita Tatiana Dias. Acesso à Justiça na América Latina: reflexões a partir dos juizados especiais federais do Brasil. [s. l]: Revista de Estudos e Pesquisas sobre as Américas, v. 6, n. 1, p. 19-35, 2012. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/repam/article/view/19537. Acesso em: 06 mai. 2025;
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. Traduzido pelo Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio). 2015. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/91863-agenda-2030-para-o-desenvolvimento-sustent%C3%A1vel. Acesso em: 25 de abril de 2024.
Portal STF. STF amplia emprego de Inteligência Artificial. 2023. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=508710&ori=1. Acesso em: 15 nov. 2024;
REDAÇÃO GQ. Por que o algoritmo do Google não autocompleta as buscas por "mulher"? Gq. 2021. Disponível em: https://gq.globo.com/Lifestyle/noticia/2021/03/por-que-o-algoritmo-do-google-nao-autocompleta-buscas-por-mulher.html. Acesso em: 16 nov. 2024.
ROQUE, Nathaly Campitelli. O direito fundamental ao acesso à justiça: muito além da celeridade processual. Revista Pensamento Jurídico, São Paulo, v. 15, n. 1, jan./abr. 2021. Disponível em: https://ojs.unialfa.com.br/index.php/pensamentojuridico/article/view/505. Acesso em: 3 fev. 2025;
SALOMÃO, Luis Felipe; TAUK, Caroline Somesom et al. Inteligência Artificial: tecnologia aplicada à gestão de conflitos no âmbito do Poder Judiciário brasileiro. 3a ed. Rio de Janeiro: FGV, 2023;
SANDEFUR, Rebecca L. Access to Civil Justice and Race, Class, and Gender Inequality. [s.l]: Annu. Rev. Sociology. n. 34, p. 339–358, 2008;
SEGUNDO, Hugo de Brito Machado. Direito e inteligência artificial: o que os algoritmos têm a ensinar sobre interpretação, valores e justiça. São Paulo: Foco, 2023;
UNIÃO EUROPEIA. Conselho da Europa. Comissão Europeia para a Eficácia da Justiça. Carta Europeia de ética sobre o uso da inteligência artificial em sistemas judiciais e seu ambiente: adoptada pela CEPEJ na sua 31.ª reunião plenária (Estrasburgo, 3 e 4 de dezembro de 2018). Estrasburgo: UE, 2018. Disponível em: https://rm.coe.int/carta-etica-traduzida-para-portugues-revista/168093b7e0#_Toc530141212. Acesso em: 03 fev. 2025;

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Copyright (c) 2025 Ana Carolina Oliveira Sousa, Samuel Nunes Furtado